Lar
Secret Style Icon: Anna Wintour e seu armário de cápsulas
Uma casa simples
Seja na internet, tv ou em livros, existe uma variedade imensa de ideias e sugestões de como decorar uma casa. A cada ano surgem novos estilos e novos itens "essenciais" no mercado de decoração. Muitas vezes as novidades são o reflexo de como vivemos agora, adaptando nossos lares a cada nova fase da vida. Mas a maioria dessas novas tendências são fruto do mercado, que cria novidades pela aparência e não pela necessidade. Não estou fazendo mais uma crítica boba ao mercado de consumo, mas pensando no que é essencial pra construir um lar, independente do estilo.
Não estou pensando no que é essencial pra viver, que nem o minimalismo. Gostaria de saber o que precisamos numa casa pra vivermos bem? Me fiz essa pergunta logo que me casei e precisei listar o que tínhamos que comprar pra morarmos na nossa casa nova. Foquei nos básicos e fui adquirindo o resto conforme a necessidade surgia e até agora temos vivido bem, mas não temos muita decoração. Que tipo de decoração é legal de ter, pra que nossa casa pareça um lar e não um bunker? Que tipo de decoração realmente faz diferença e qual é apenas mais um produto da moda que não tem nada a ver comigo?
Enquanto pensava nisso, lembrei da casa em que cresci. Era uma casa muito engraçada, cheia de bagunça e desordem. A maioria das coisas foram doadas e não tinha nada, absolutamente nada, de decoração. Esse, no entanto, foi meu lar durante toda a infância. Essa casa passou por uma reforma e eu nunca mais vou voltar pra aquele lugar que às vezes eu amava e às vezes achava horroroso. Uma vez meu tio me disse que nossa casa não precisava ser tão bagunçada, que não era porque éramos pobres que não podíamos ter uma casa com cara de lar. Confortável, acolhedora, bonita, funcional... Um lar. Uma casa simples.
Tentei redesenhar a planta da casa e a decoração simples dos ambientes, para imaginar como seria meu lar. Sem recorrer a nenhum estilo de decoração e arquitetura, apenas mobiliando e decorando como provavelmente poderia ter sido.
Na área, vasos de planta da minha vó e roupas no varal. Na sala, sofás confortáveis, um banco no centro pra por os pés, um rack com tv, rádio, cds, livros e fotos da gente. O quarto da minha tia, com cama, abajur, guarda-roupa, tapete confortável e abajur. O quarto dos meus tios com duas camas, duas cômodas pra cada um e um quadro de praia na parede. O banheiro com potinhos coloridos pra guardar cotonete, algodão e as escovas de dente. A cozinha com uma mesa grande pra todo mundo se sentar e um quadro grande de quebra-cabeça que todos montaram juntos. A suíte dos meus avós, com um armário de madeira e fotos da família na parede. E mais um quarto de visitas, com uma vela cheirosa na mesinha de apoio.
Posso ficar um tempão imaginando esse lugar, que na minha infância muitas vezes eu sonhei em encontrar. Eu não queria uma casa super decorada, na moda e bonitona. Eu queria uma casa simples.
A Bíblia fala que a mulher sábia edifica a casa. Espero poder edificar minha casa simples e dar a minha família o prazer de rememorar um lar agradável.
A bagunça dos outros
Pensando sobre a origem das tralhas na minha casa, lembrei de uma categoria que vez ou outra aparece aqui: as coisas dos outros. Recentemente, minha família veio nos visitar e como as malas tinham limite de peso, algumas coisas precisaram ficar. Agora tenho duas sacolas grandes de coisas que eu preciso organizar em algum lugar. Antes que vire tralha!
Tem também os presentes e doações, que não se limitam a datas especiais, mas vão se amontoando ao longo do ano. Confesso que são as coisas que viram tralha mais rapidamente.
Só que por mais que sejam coisas que eu não escolhi e provavelmente não teria em casa se alguém não tivesse dado, não gosto muito de simplesmente descartar. Antes eu pensava que pra começo de conversa certos presentes nem deveriam existir na minha casa e por isso eu poderia jogar fora.
A ideia do minimalismo chegou a um ponto tão exagerado que às vezes achava que viver com menos seria a chave para o bem-estar no lar. Daí jogar esse tipo de coisa fora era meu primeiro pensamento.
Hoje, penso que posso procurar alguma utilidade praquilo ou simplesmente aproveitar o presente!
Quem eu seria se não estivesse tudo bagunçado
Esses dias vi uma série de organização da casa de uma moça (Space Maker) em que conforme ela ia reencontrando coisas que tinha comprado há muito tempo, ela ia usando tudo. A cada novo episódio seu cabelo estava mais bonito, ela se vestia melhor, sua pele estava mais jovem... A organização estava ajudando a ela ser a pessoa que ela gostaria de ser!
Não compre brinquedos
"Não compre brinquedos". Esse foi o conselho que uma colega de trabalho me deu pouco antes de eu sair de licença maternidade. Ela disse que provavelmente eu ia ganhar muitas coisas e que num piscar de olhos minha casa estaria lotada de brinquedos numa bagunça sem tamanho. Minha filha tem menos de três meses e posso confirmar, os brinquedos vão se amontoando aos poucos. Até agora, não comprei nada pra ela brincar e ela já tem várias coisas. Confesso que é difícil resistir a tentação de comprar mais uma pelúcia ou um chocalhinho, porque são muito baratos! E eu sempre acho que ela vai gostar, mesmo ela estando numa fase em que tudo o que ela quer é carinho.
Esses dias vi um vídeo de uma moça contando como foi o processo pra ela se desfazer da maior parte dos brinquedos dos filhos. No vídeo ela dá detalhes de todo o processo e fala bastante sobre a fixação com brinquedos educativos, e o que mais me chamou atenção foi ver que ela comprou vários brinquedos na ideia de que eles iriam estimular a inteligência dos filhos, mas que acabou percebendo que ela estava apenas estimulando o materialismo neles.
Quando eu era criança não tinha muitos brinquedos, mas ver as coisas que minhas primas ou colegas tinham me despertaram o instinto consumista. Eu não queria brincar, eu queria "ter". Minhas brincadeiras favoritas raramente envolviam ficar sentada interagindo com um objeto. Pega-pega, dançar, faz-de-conta, bicicleta, banho de chuva, pular corda... Era isso que eu gostava de fazer.
No vídeo a moça conta que ela percebeu como os filhos dela eram criativos nas brincadeiras, especialmente quando ela tirou a maioria dos brinquedos. Durante o tempo que fiquei no berçário da igreja, pude observar a mesma coisa. Os bebês dificilmente se interessavam por um brinquedo por muito tempo, eles gostavam mesmo do escorregador, de abrir e fechar portas e interagir entre si. Aquele amontoado de brinquedos às vezes só servia pra fazer bagunça. Inclusive já vi essa cena se repetir na casa de vários amigos com filhos! Um montão de brinquedos empilhados em um canto da sal, enquanto só um ou outro era utilizado.
Talvez conforme minha filha cresça e interaja mais, eu me empolgue pra comprar algumas coisas. Por enquanto, vou tentar seguir o conselho da minha amiga e brincar de peek-a-boo com minha filha.
Criar é melhor do que consumir
Preparar e saborear uma receita é muito melhor do que ver programas e vídeos de culinária. Dividí-la com pessoas queridas então... Tudo de bom!
Arrumar e decorar a casa, deixando-a cheirosa, confortável e bonita, é muito melhor do que assistir programas de decoração, ver um livro de decoração ou salvar fotos no Pinterest.
Se arrumar pra ir em um lugar legal ou se encontrar com quem a gente gosta é melhor do que ver fotos de looks ou coleções de moda.
Orar, louvar, ter comunhão, é melhor do que ler livros sobre isso.
Sei que tudo isso parece óbvio, mas eu preciso me lembrar que a parte mais legal é ver acontecer.
A caixa com tudo não existe
Por um tempo eu quis postar no meu blog tudo aquilo que eu encontrava e achava bonito. Eu queria ter tudo em um único lugar pra que eu pudesse rever quando quisesse uma inspiração. Fotos minhas, imagens do Pinterest, links de sites legais, listas de coleções de moda, fotos de coisas bonitas, playlists, citações, comentários de filme... Tudo, tudo que coubesse no formato de texto e imagem deveria ficar no blog. Eu costumava dizer que era como meu baú de tesouros.
Não deu certo. Tentei várias vezes fazer isso, mas sempre desistia. Percebi que o blog é um espaço em que você pode publicar textos e imagens, como um caderno, só que digital. Tantas vezes, com a mente borbulhando de pensamentos, recorri ao blog pra desabafar, refletir ou opinar, aproveitando da agilidade e praticidade de digitar no celular. Poucas vezes vim no blog pra rever uma coleção inspiradora ou ver uma casa que achei bonita. Minha insistência de fazer do meu blog uma "one stop shop" acabou com a identidade dele.
Agora, quando assisto um filme legal, escrevo no meu diário o que achei e se for muito bom, recomendo aqui. Quando vejo uma coleção que gosto, escrevo o nome da marca e da coleção numa lista ou salvo no Pinterest se der. Se tem um site legal, salvo nos favoritos. Minhas fotos estão em álbuns do celular. E por aí vai.
A nossa multiplicidade não caberia nunca em um lugar só.
Nada se vai
A avó do meu esposo é uma senhora de mais de 70 anos que tem a casa muito bem arrumada, tudo tem o seu lugar e a bagunça se limita aos armários e gavetas que estão sempre fechados. Tive a oportunidade de ajudá-la a organizar sua despensa e foi interessante perceber que mesmo tendo coisas guardadas há quase um século, não havia nada que precisasse ser descartado. Naturalmente, todo processo de organização começa com o famoso "destralhe", mas essa senhora não tinha tralhas. Como é possível?
Ela tinha fôrmas e Tupperwares antigas, meio amassadas e sem tampa, que ainda serviam bem, mesmo não estando com cara de novas. Por isso ela não precisava comprar uma nova, simples assim.
Na casa dela sempre tem um bolinho de tarde, então várias vezes na semana ela precisa untar uma fôrma de bolo. Pra isso ela usa um pincel tão velho que tem só metade das cerdas, mas que apesar disso funciona muito bem. Isso não quer dizer que é uma casa cheia de coisas velhas, porque ela cuida bem de tudo o que tem.
Eu amo estar na casa dela! Não é que cada objeto tem uma história ou uma "memória afetiva" como os ricos brasileiros gostam de dizer, mas cada coisa ainda ajuda ela a viver e experimentar cada vez mais momentos alegres. Seja tomando um banho relaxante e se secando com um roupão antigo e bom. Seja indo passear com as filhas usando aquela sandália de coleções passadas que é muito confortável. Sua casa é o lugar onde ela se sente bem e recebe aqueles que ama, e não um museu ou showroom de tudo o que possui. Provavelmente ela nem pensa em tudo isso, mas é assim que eu percebo.
Eventualmente ela se desfaz de algumas coisas que não usa mais. Se não for lixo de verdade, ela da pra alguém, como um presente. Ela não trata suas coisas como entulhos que precisam desaparecer da sua vida a qualquer custo, mas como coisas suas, que vão servir mais um tempo na casa de alguém. O que custou o trabalho da sua família pra ser adquirido, não é tratado como "tralha" se ainda serve bem.
Com ela aprendi que dá pra usar tudo até o final, que nossas coisas são fruto do nosso trabalho ou de alguém que gostamos, e que se algo é tralha não precisamos gastar nosso dinheiro com isso. É o fim do destralhe!
Por que destralhamos?
Vídeos de pessoas destralhando suas casas e decorando um ambiente novo é o que mais aparece pra mim no YouTube, e às vezes eu mesma vou em busca desse tipo de conteúdo. Recentemente achei um programa chamado Sort Your Life Out, em que todos os objetos da casa de uma família são dispostos em um galpão enorme pra que a pessoa tenha o choque de ver quantas coisas tem. No fim, como todos os outros vídeos do mesmo estilo, o que restou é reorganizado em um ambiente bonito e funcional. A pergunta que faço é como e porquê a situação chegou a esse ponto. Qual o sentido de comprar algo pra jogar fora logo em seguida?
Primeiro, acho que consumir e comprar é um passa-tempo comum. Nossos passeios são em lojas, shoppings, brechós, feirinhas etc. Nosso tempo fora do trabalho é pra comprar. Digo isso baseado na minha realidade. Nesse ritmo, nossa casa fica pequena pra tantas coisas. Segundo, tem o fator do tempo. Com o passar dos anos, tudo o que adquirimos vai naturalmente se acumulando, até que não temos mais espaço pra tudo. Terceiro, as coisas quebram, ficam velhas, perdem o uso e acabam virando lixo.
Chega um ponto em que nós encontramos com um armário cheio de roupas, mas com a sensação que não temos o que vestir. Temos uma gaveta com vários hidratantes e produtos que nunca usamos. Dezenas de canetas espalhadas por todo lugar, mas nenhuma quando precisamos. Nós vemos obrigados a arrumar essa bagunça que fizemos.
Como fizemos isso? Durante um "festival de organização" como diria a Marie Kondo, será que lembramos porque trouxemos uma blusa que não nos veste bem pra casa? Ou por quê temos um pacote enorme de fermento biológico na despensa? Por que paramos de usar aquela bolsa de florzinhas linda? Qual sentimento vem quando lembramos da sensação boa de quando adquirimos um objeto que agora é indesejado?
Tenho pensado muito sobre isso. Espero poder escrever e pensar mais sobre isso. Quem sabe encontro uma resposta!
Worst cooks in America
Apresentado pela incrível Anne Burrell, Worst Cooks in America é melhor do que uma espécie de comédia em que vemos as coisas mais esquisitas sendo preparadas, e melhor do que programas em que cozinheiros profissionais tentam impressionar. Pessoas que realmente não sabem o que estão fazendo aprendem a cozinhar em poucos dias e é muito legal ver quando acertam e como evoluem rápido. Também é muito engraçado ver quando eles erram, porque eu pelo menos aprendo com os erros dos outros (ou me lembro de erros que já cometi!). As receitas são ótimas porque são criativas e fáceis de fazer na medida certa, então eu já peguei várias ideias de receitas legais pra fazer. Até agora, quero muito preparar uma salada chamada salsa cruda e um prato com lombo de porco empanado que eu nem sabia que dava pra fazer. De quebra ainda relembrei alguns ensinamentos essenciais da Anne Burrell: prove a comida, faça o mise en place, mantenha sua cozinha limpa e adicione sal(!!). Outras coisas que eu só vi nesse programa foi uma pessoa cozinhando um frango inteiro, um rapaz que cortou um frango com as mãos, uma porção minúscula de batata sendo cozidas em litros de água e outras maluquices que só alguém que realmente não sabe cozinhar poderia fazer.