Truques de beleza

Essa semana li um livro de moda muito famoso no Brasil nos anos 90, que dava sugestões de como se arrumar bem e estar sempre bonita. Vez ou outra quando olho no espelho me incomodo com o que vejo e, me comparando com minhas amigas, penso que poderia me arrumar melhor. Acontece que essa tarefa não é tão simples, já que envolve entender meu corpo, buscar referências, entender meu estilo, organizar meu armário, adquirir peças novas... Uma série de coisas que exigem tempo e dinheiro. Eu queria poder melhorar minha aparência agora, sem ter que ficar filosofando sobre o que acho bonito, nem ficar calculando o que quero diminuir ou aumentar no meu corpo. Só quero me arrumar, pronto.

Percebi que existem duas coisas essenciais que precisam ser ajustadas antes de eu pensar em como combinar peças de roupa: os cuidados pessoais e da alma.

Os cuidados pessoais são aquelas coisas que se descuidadas, acabam com qualquer roupa bonita. Limpeza, cabelo, pele, unhas, dentes, cheiros... Isso é tão essencial e, infelizmente, tão negligenciado! Britânicos têm fama de ter dentes feios, franceses cheiram mal, outros não lavam o cabelo, alguns andam com roupa suja... Por mais elegante que seja uma roupa, nada esconde esse descuido! Esses cuidados devem vir primeiro.

Depois disso, vem o bem-estar de dentro. Entender que um sorriso é o acessório mais bonito, que o brilho no olhar substitui qualquer jóia, mãos que afagam são mais confortáveis do que tecidos finos, pés que se dispõem a acompanhar são mais preciosos do que qualquer sapato caro, palavras graciosas trazem alegria, e roupa nenhuma pode produzir esse tipo de sentimento.

Mesa posta

Minha avó paterna é uma mulher de Deus. Todo os dias, sua manhã é marcada por um momento a sós com o Senhor em seu quarto, de portas fechadas, como Jesus ensinou. Desde pequena eu a admirava, e ficava imaginando as preciosidades que ela conversava com nosso pai. Depois desse momento, ela sai do quarto e começa seu dia. Arruma a casa, cozinha, sai pra fazer compras... De tarde é seu momento de descansar, depois que tudo já está em ordem. Sua casa é sempre organizada e sempre pronta a receber. Durante um tempo eu almoçava e jantava lá, era um dos meus momentos favoritos. Sempre tinha uma comida gostosa, por mais simples que fosse. Eu tinha certeza que sempre que quando chegasse lá, seria bem recebida. Mas nem sempre foi assim. 

Quando ela não era convertida, sua casa era a maior bagunça. Com oito filhos, ela não tinha muita disposição pra deixar tudo arrumado e sempre pronta a servir. As coisas ficavam sujas e isso não era um problema muito grande pra ela. Sei disso porque ela me contou que antes de conhecer Jesus, sua casa era cheia de desordem, e ela comia em qualquer lugar. Mas depois que aceitou a Jesus, ela só comia à mesa. Essa frase me impactou tanto!

Ela me contou isso, exatamente esse exemplo da mesa, porque na minha casa era a desordem: ninguém comia à mesa, mas em qualquer lugar. Podíamos comer deitados na rede, sentados no chão, na sala de estar, até mesmo na calçada de casa. Comer juntos na mesa? Nem em jantar de natal. Essa desordem boba não era resultado da nossa pobreza, mas da inimizade entre irmãos,das brigas entre pais e filhos, da preguiça, do desejar e nunca trabalhar, da falta de paz, amor e esperança. Você imagina sentar na mesa com pessoas que não gosta? Imagina dividir uma refeição com quem brigou com você? Como arrumar uma mesa pra comer enquanto se abala pelo futuro incerto? Nós éramos famintos pelo pão da vida.

Quando minha avó falou isso eu percebi que Jesus é o alicerce da nossa vida e da nossa casa, que a partir dele nos tornamos alguém que vive e não apenas sobrevive. Sua palavra era complexa e misteriosa pra mim, mas passei a entender que ela se aplica a aspectos simples do dia-a-dia, como comer à mesa. Foi como finalmente entender a musiquinha do homenzinho torto. Jesus, quando convidado para nossa vida, é a luz que resplandece nas trevas. Ele nos faz sentir amados, nos dá paz com nosso pai e nos enche de esperança por um futuro certo. Nosso lar é totalmente transformado!

Me traz uma água?

Cresci na casa dos meus avós, morando com meus tios e tias que tinham entre 14  e 20 anos. Como todo bom adolescente, eles não eram muito gentis uns com os outros. Se alguém pedisse um favor, eles diriam com ironia "eu não, vai você!". Se alguém precisasse de ajuda, eles até se ofereciam, mas apenas enquanto isso não atrapalhasse seu bem-estar e conforto. Eu acabei achando que isso era normal. Achava que atender aos pedidos das pessoas era ser feita de boba e deixar que alguém se aproveitasse da minha boa vontade. Até que fui em uma casa que a realidade era diferente.
Estava na casa da minha tia com minhas primas, todas deitadas pra dormir. A mais velha pediu pra mais nova: "pega um copo d'água pra mim, por favor?". Meu pensamento foi "que folgada! Ela vai fazer a irmã se levantar só pra pegar água? Por que ela mesma não vai?". Qual não foi minha surpresa, quando minha outra prima se levantou e foi buscar a água. Ela bebeu, e as duas dormiram em paz. Eu fiquei chocada.
Esse pequeno gesto me ensinou muito sobre gentileza, sobre pequenos atos de carinho que fazem uma casa mais confortável do que todos os lençóis de fios egípcios do mundo juntos. Na minha casa, esse simples pedido seria respondido com ironia, criando um pequeno distanciamento entre os irmãos que pouco a pouco, veio a se tornar um abismo imenso.
Essa minha tia era cristã e foram situações como essa que eu pude observar como é prazeroso estar num lugar onde o amor de Deus é buscado e expressado em atos de carinho e serviço. Percebi que Cristo nos dá uma morada de verdade.

Lar, parte 2

No post anterior eu refletia sobre o que era essencial no lar. Eu escrevi basicamente sobre compartimentos e atividades que fazemos na nossa casa. Foi lendo o livro da Devi Titus que lembrei que existe algo ainda mais essencial na formação de um lar: os relacionamentos.

Todo mundo já ouviu dos pais a frase "é melhor aprender comigo do que com o mundo lá fora". As pessoas que não nos conhecem têm naturalmente uma desconfiança da gente, por não nos conhecer; e uma falta de afeto natural, porque não são próximas de nós. Fora de casa não é comum encontrarmos atenção, carinho e cuidado. Respeito, doçura, compreensão e amor são algumas das coisas que naturalmente esperamos receber em casa.

Minha filha acabou de nascer, há quase três meses. Mesmo tão pequena, muitas vezes o seu choro é consolado com um abraço, uma voz doce, um alimento dado com carinho, um banho relaxante, sorrisos... Qualquer ato desafetuaso a faz chorar ainda mais. Como alguém que acabou de chegar no mundo, ela deseja ser amada, e isso um bebê só encontra em casa. E é assim que a gente entende que essa nossa necessidade tão humana de receber afeto encontraremos naturalmente em casa.

É terrível o estrago causado por um casa ou família que não oferece isso, mas que nos trata tão mal ou pior do que as pessoas da rua. A falta de um afeto que vem do nosso lar nos desestabiliza, a ponto de procurarmos por isso nos lugares mais estranhos.

Sempre vejo vídeos sobre decorações de casa e arquitetura de mansões luxuosas que são o sonho de qualquer pessoa. Mas sem amor, esses prédios tão lindos nunca chegarão a se tornar um lar de verdade, nunca oferecerão o conforto e carinho que precisamos. Porque o que faz de um casa um lar é o amor.